Palavra Médica

Entrevista realizada pelos membros do grupo Unidas Pela Dor com o Dr. Ricardo Barini 

P. Quando a grávida faz a punção do vilo corial, ou a aminocentese existe o risco do aborto, este aborto pode ocorrer um mês após a punção, a bolsa estourou e o parto ocorreu com 21 semanas, o bebe não resistiu...Pode ter sido a causa o exame? Se não, o que causa?

R. Geralmente se aceita que tudo que ocorrer com a gravidez até 15 dias depois de um procedimento deve ser imputado ao mesmo. Devem ser afastadas outras causas para a ruptura da bolsa, como a incompetência do colo uterino ou infecções vaginais.

P. Quando grávida de gêmeos e um dos bebes não sobrevivi, qual o procedimento a se tomar, fica o bebe morto no organismo até o parto, e caso ele transmita uma infecção à mãe o que deve ser feito? Qual é a maneira de se lidar com este problema.

R. Quando um dos fetos morre dentro do útero a conduta é expectante. Só há risco de problemas quando houver comunicação circulatória entre os dois bebês, uma condição que se chama transfusão feto - fetal. Fora isso a gravidez segue normalmente até o termo.

P. Porque a bolsa rompe? Sei que miomas podem faze-lo, mas qual tipo de mioma, intramural, submucoso ou subseroso? Incompetência Istmo Cervical também pode causar o parto prematuro, a cerclagem é indicada quando?

R. A ruptura da bolsa das águas é uma das coisas que mais se estuda na obstetrícia e não se tem diagnóstico definitivo. O mais aceito é que uma infecção diminui a capacidade de resistir a diferenças de pressão e isso é o que facilita a ruptura. A incompetência é uma das maneiras de expor as membranas ao contato com as bactérias da vagina e isso pode facilitar a ruptura. A cerclagem estará indicada quando for identificada a incompetência, de preferência entre a semana 12 e 16 da gravidez.

P. Um bebe prematuro tem chances de sobreviver se nascer no mínimo com quantas semanas, em que tipo de UTI e para que tipo de hospital deve ser encaminhado?

R. Quanto mais maduro, melhores são as chances. Hoje há relatos de crianças com 22 semanas que sobreviveram, mas com grande dificuldade e com muitas sequelas, principalmente neurológicas. O hospital deve ter UTI neonatal habituada a lidas com esses bebês de extremo baixo peso,.normalmente os hospitais de referência em tratamento terciário são os mais procurados.

P. Como evitar o parto prematuro? Existem cuidados básicos que a mãe pode ter, quais os exames devem ser feitos para que saibamos quem tem o risco de um parto prematuro?

R. O parto prematuro é difícil de ser prevenido, pois na maioria das vezes ele não dá aviso prévio. O que as mulheres devem fazer é estarem atentas para o número de contrações que tem no dia a dia, que devem ser abaixo de uma por hora antes de 28 semanas, e menos que uma a cada 20 minutos até a semana 36. O principal fator de risco para parto prematuro é ter um prematuro anterior, o que dificulta o primeiro diagnóstico. Mas com um evento anterior recomenda-se repouso, redução da atividade física e sexual, controle das contrações uterinas e se necessário medicação para diminuir as contrações.

P. Infecções uterinas e de urina causam abortos, como tratar em uma grávida estas infecções? E porque elas surgem, tem com prevenir?

R. As infecções que podem levar ao aborto são aquelas relacionadas à transmissão de microrganismos para o feto através da corrente sanguínea materna, como rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose por exemplo. Raras vezes infecções ascendentes (que sobem da vagina para dentro do útero) podem ser causa de aborto, mas são mais casos excepcionais que rotineiros. A infecção de urina se associa a parto prematuro e sempre deve ser tratada para evitar que este ocorra. A prevenção das infecções deve ser feita desde antes da gravidez, por uma vacinação contra rubéola para quem nuca teve contato com o vírus e com orientação daquelas pacientes que não possuem anticorpos contra esses outros agentes (citomégalovírus e toxoplasmose). O cmv se pega por transfusão, contato com secreções e por saliva, o que a torna uma doença bastante disseminada. Como não é grave fora da gravidez não há vacina ou tratamento. A toxoplasmose se contrai comendo carne crua ou mal passada ou alimentos contaminados com fezes de gato. Por isso a higiene é a principal prevenção e que lida com jardinagem ou terra deve ter cuidado de se lavar bem logo depois de mexer com terra ou outra atividade parecida.

P. Qual a melhor conduta caso rompa a bolsa de uma grávida de 21 semanas? Existe a possibilidade de salvar o bebe, com repouso da mãe, uso de corticoides e etc...Por quanto tempo o bebe sobrevive no útero após o rompimento da bolsa?

R. Não há conduta definitiva, infelizmente. O que se faz na maioria dos casos é ter uma conduta expectante e levar a gravidez adiante enquanto não houve sinais de infecção dentro do útero, usando corticoides a partir de 26 semanas de gravidez. Pode ser um, dois três ou mais meses de gravidez. Não há limite definido. O bebê sobrevive enquanto não tiver infecção qualquer.

P. Qualquer maternidade tem condições de atender a uma gestante com vazamento de liquido e grávida de gêmeos, com no máximo 25 semanas de gestação?

R. Uma maternidade com UTI neonatal com experiência nesses casos. A rede de hospitais terciários é a melhor preparada.

P. Existem formas de se fechar um furo na placenta?

R. Não, nem placenta nem na bolsa das águas.

P. Abortamentos espontâneos anteriores e sangramentos na atual gestação são fatores que podem propiciar um parto prematuro?

R. Sim.

P. Doenças existentes na família, como hipertensão e diabetes, mesmo a gestante não apresentando esses problemas, pode vir a aparecer e desencadear um parto prematuro?

R. Não, só se a gestante for acometida.

P. Quais os sinais para detectar que o colo do útero esta abrindo? Sai alguma secreção, ou qual seria o sintoma?

R. Geralmente a mulher refere que há saída de uma certa quantidade de catarro ou muco que é expelido pela vagina, denotando a saída do tampão mucoso. Há também referência de sensação de peso no baixo ventre, com ou sem cólicas. Mulheres com risco para parto prematuro devem ser alertadas para esses sintomas e procurarem assistência quando presentes.

P. É verdade que comer chocolate em excesso durante gravidez pode aumentar o nível de oxitocina no corpo e gerar fortes contrações podendo causar um parto prematuro?

R. Não, mas pode causar um aumento de peso desnecessário, levando até ao diabete gestacional.

Dr. Ricardo Barini

Ginecologia e Obstetrícia

Imunologia da reprodução

Medicina Fetal

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